4 de junho de 2023

Como ensinar xadrez para uma criança?

Wellington Melo aprendizagem aprendizagem, criança, xadrez

Qual a idade mínima para aprender xadrez?

Essa é uma pergunta difícil. É o mesmo que perguntar: qual a idade mínima para aprender a andar? Depende. Depende de cada criança, cada desenvolvimento, cada ambiente. Não existe uma idade mínima. Mas ai vem outra questão: a partir de que idade devo estimular meu filho com o xadrez? Agora sim temos uma pergunta com uma resposta viável.

Pela experiência que temos em todos esses anos, os três anos são uma boa idade para começar. Aos 4 anos, já fica mais fácil ensinar conceitos mais abstratos e esperar um desenvolvimento mais rápido. Na Mearas, essa é a idade ideal para começar aulas particulares. Aos 5 anos, já é possível fazer aulas em grupo. Aos 6 anos, temos o primeiro ápice de desenvolvimento, sendo o segundo aos 9 anos. Toda hora é hora de começar, porém, a forma como o xadrez deve ser introduzido é o ponto crucial para o sucesso.

Como ensinar xadrez?

Aos três anos, como qualquer outra coisa, o xadrez deve ser apresentado como brincadeira. Brincar significa explorar sem cobranças, sem tempo, sem regras. Deixe tocar as peças, conhecer o tabuleiro, montar o jogo, capturar peças, brincar. Perceba que a criança faz, institivamente, movimentos para organizar o tabuleiro, geralmente colocando as peças brancas na casas brancas e pretas nas casas pretas.

– Para começar, ensine o nome das peças. Cavalos são as mais fáceis, bispos as mais difíceis. Ensine, repita, peça para a criança repetir, mostre diferentes peças e deixe-o nomeá-las. Repita o processo até não observar nenhum erro.

– Organize as peças. Mostre onde cada peça começa o jogo. Costumamos contar uma história sobre o casamento do rei. O rei vai se casar com a rainha. Ambos estão ao centro, na igreja, esperando a cerimonia começar. A Rainha, vaidosa, quer combinar a cor do seu vestido a cor da casa. Portanto, sempre fica na casa da sua cor. O rei, fica imediatamente ao seu lado, em casa de cor invertida. Ao lado dos dois, os bispos, que são como padres. Do lado de fora da igreja, temos os cavalos, os quais serão usados para conduzir o rei e a rainha para casa. Os cavalos, estão aguardando a sombra das torres, que representam os muros do castela. A frente de todos, os guardas, chamados de peões. Pronto. Assim temos nosso tabuleiro montado. Assim como o nome das peças, ensine, repita, peça para a criança repetir, deixe-a ensinar outras pessoas e brincar sozinha.

– Movimentação das peças: mostre como cada peça se movimenta. Começa por peças de movimentação simples, como torre, bispo e dama. Faça jogos utilizando essas peças, faça corridas, caça e presa, capturar peões, passar por labirintos, etc. Como sempre, siga nossa metodologia: ensine, treine e brinque. Depois, passe para peças complexas, como peão, cavalo e rei. Mesmo o rei sendo uma peça de movimentação simples, ela é considerada complexa pelo fato de que não é possível ser capturado.

Como assim não pode capturar o rei no xadrez?

É isso mesmo que você leu. O rei não pode ser capturado no xadrez. Como assim? Para ganhar o jogo de xadrez, você deve prender o rei, não capturá-lo. Quando é possível capturar o rei, significa que algo errado aconteceu e chamamos isso de falta. A falta acontece quando realizamos algo errado no xadrez, quebramos alguma regra. Por exemplo, a regra diz que, ao estar em xeque (ou seja, com seu rei sob ataque), você deve salvá-lo em seu próximo lance. Se não fizer isso, ao mover outra peça por exemplo, você cometerá uma falta. Assim como no futebol, ao cometer uma falta devemos seguir três passos: para o jogo, anotar a falta e continuar o jogo. Parar o jogo e anotar a falta é como se fosse aplicado um cartão amarelo (ou vermelho, dependendo do tempo de jogo). Ao continuar, você deve voltar o lance incorreto e realizar um outro, sem errar dessa vez. No exemplo que usamos, você deve tirar o rei do xeque. Após isso, o jogo continua. Se seu adversário cometer uma segunda falta, consideramos um cartão vermelho e ele perde o jogo. Conforme comentei anteriormente, a quantidade de faltas varia de acordo com o tempo de jogo. Em partidas Blitz (menos de 5min) uma falta causa a perda da partida. Em jogos Standard (mais de 1h) duas faltas causam a perda. Portanto, pensando dessa forma, sempre que for possível capturar o rei, uma falta aconteceu. Devemos voltar o lance e continuar, até conseguirmos prender o rei.

O xeque-mate

E aqui chegamos a parte mais complexa do processo. Ensinar o xeque-mate é algo MUITO abstrato. Com isso, torna-se a parte mais difícil para uma criança compreender. O xeque-mate acontece quando atacamos o rei (xeque) e ele não possui nenhum movimento legal para escapar desse xeque, seja fugindo, bloqueando com alguma peça ou capturando a peça atacante. Explicar isso a uma criança é extremamente difícil. E, mesmo que entenda, aplicar isso na prática também é igualmente difícil. Como já falamos e repetimos, agora é hora de aplicar a metodologia Mearas: ensine, pratique e brinque. Até aprender.

Quais formas de estimular corretamente?

Não perca

Nunca deixe uma criança ganhar. Deixar ela vencer faz com que você não seja mais um adversário a ser batido. E, acredite, eles sabem quando você deixou. Isso faz com o que o jogo perca a graça. Jogue, ganhe, mas mantenha sempre uma distância curta. Não destrua o jogo da criança. Permita que ela realize algumas capturas, faça alguns movimentos, tenha um jogo desenvolvido e gaste um tempo jogando. Perder em 4 lances não traz benefício nenhum.

Não volte nenhum lance

Não permita que ele volte um lance. Isso é proibido no xadrez. Mesmo que de forma pedagógica, evite quebrar regras. Isso serve para a vida. Mostre que, ao realizar um lance ruim, você deve lidar com as consequências. E que, muitas vezes, é impossível voltar atrás. Para que isso não aconteça, você deve pensar melhor nos próximoas lances, pois sabe que voltar não é uma opção.

Elogie se acertar, comente se errar

Se a criança fizer um bom lance, elogie. Se a criança fizer um lance ruim, comente. Ao fazer um bom lance, comente porque esse é um bom lance. Mostre como isso melhora seu jogo. Quando fizer um mal lance, pergunte o motivo dele ter realizado aquele movimento. Mostre os motivos de ser um lance ruim, e continue o jogo. Lembre-se da dica anterior: não deixe voltar nenhum lance.gostam e não querem participar.

Conclusão

O segredo geral do estímulo para qualquer atividade para uma criança está na diversão. Ninguém gosta de algo que seja forçado ou chato. Deixe o jogo ser divertido, interessante, legal. Creio que esse seja o diferencial da Mearas Escola de Xadrez no mercado. Ao entrar, cada professor em seu treinamento ouve que o xadrez é o esporte mais chato que existe. Cabe a nós professores deixá-lo legal. Após se apaixonar pelo xadrez, os alunos ficam mais propensos a gostar até das partes mais chatas.

Quer estimular seu filho a gostar de xadrez? Fale com a gente 🙂

Wellington Melo

Diretor geral

Mearas Escola de Xadrez

Mestre em Educação pela Unb